Ao ler o capítulo intitulado “Interpretación y aplicación de la ética bíblica”, escrito por Ron du Preez[1], percebi o quanto é importante obedecer e, ao mesmo tempo, nossa impossibilidade de fazer isso naturalmente. Entre outras coisas, ele destacou que “o estudo das Escrituras revela a estreita relação entre fazer e ser”[2], e cita como prova Tiago 1.22 que diz: “Sede praticantes da Palavra e não simplesmente ouvintes, iludindo a vós mesmos”.
O problema é que, se olharmos para os Dez Mandamentos (Êx 20.1-17; Dt 5.1-21) sem hipocrisia, perceberemos que gostaríamos que alguns dos preceitos ali contidos não existissem. Preferiríamos que aquilo de errado que sentimos vontade de fazer (ou fazemos) não fosse proibido pelo Criador e Legislador. Por quê somos assim? Serei direto:
Antes do pecado, nossos primeiros pais obedeciam com a mesma facilidade que respiravam. Após o pecado, desobedecemos a Deus com a mesma facilidade que respiramos.
Aí está o porquê de olharmos para a Lei de Deus e nos imaginarmos mais felizes (uma falsa felicidade, óbvio) se alguns mandamentos não fizessem parte do Decálogo.
Nossa natureza ficou tão envenenada que “desde a planta dos pés até o alto da cabeça não existe nada são” em nós (Is 1.6). Somos concebidos e nascemos na iniquidade (Sl 51.5), injustos (Rm 3.9-10), indispostos a buscar naturalmente a Deus (Rm 3.11), maus por natureza (Rm 3.12), temos a boca cheia de palavras venenosas (Rm 3.13), falamos o que não presta (Rm 3.14), somos dispostos e rápidos para fazermos o mal (Rm 3.15) e, como resultado, desconhecemos o caminho da paz (Rm 3.17).
Além disso, nossa condição não pode ser mudada pelo simples esforço, pois, assim como o etíope não pode mudar a cor de sua pele, nem o leopardo tirar suas manchas, não podemos fazer unicamente o bem “estando acostumados a fazer o mal” (Jr 13.23).
E para piorar o quadro: nossa natureza está tão envenenada que a lei ficou “enferma”, doente, incapaz de fazer algo por nós! “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocando ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado” (Rm 8.4).
Sim, leitor: nossa condição é desesperadora. Como Paulo, muitas vezes não fazemos o que preferimos, mas aquilo que detestamos (Rm 7.15). Não fazemos o bem que preferimos, mas o mal que não queremos (Rm 7.19).
O que fazer?
Por isso, nossa única solução é a Pessoa de Cristo (Jo 14.6; Rm 7.25). Ele condenou em seu corpo o pecado (Rm 8.4) e nos proporciona uma nova chance. Apenas confiando nesse Salvador, crendo em Sua morte substitutiva (Is 53.4-7; Mt 20.28; 1Pe 1.18-20), em Sua ressurreição dos mortos (1Co 15.17-19) e na eficácia do Seu ministério Sumo Sacerdotal no santuário celestial (Hb 4.14-15; 8.1-2), você e eu podemos ser justificados (Rm 5.1), santificados (Rm 6.22) e, por último, glorificados (Fp 3.20-21) por ocasião de Sua segunda vinda gloriosa (1Ts 4.13-18; Ap 1.7).
Você precisa confiar, caro leitor, nos méritos de Jesus na cruz e não nos seus próprio méritos – até porque você não os tem. Seu olhar deve estar em Cristo, o “autor e consumador” de sua fé (Hb 12.2), não em você mesmo. Se focar em sua conduta ou em seus pensamentos, nunca terá certeza da salvação. Porém, se olhar para Ele, nunca duvidará dela! “A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente. ‘Quem crê em Mim’, disse Jesus, ‘ainda que esteja morto viverá… (Jo 11.25-26)”.[3]
Quem tem sido o seu foco: Jesus ou você? Sua obediência ou a obediência de Cristo (Rm 5.19)? Olhe mais para o Salvador e menos para suas obras (imperfeitas) e falhas de caráter. Ao mesmo tempo, não deixe de lado outra fase importantíssima da salvação que é a santificação do crente (Rm 6.22), pois sem ela “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). A graça recebida pela fé nos torna “novas criaturas” (2Co 5.17) e nos possibilita a vitória sobre o poder do pecado (Rm 6.6; 1Jo 3.9). Por isso, não seremos mais escravos porque Deus efetua em nós “o querer e o realizar” segundo a Sua boa vontade (Fp 2.13). Consequentemente, desenvolveremos ao longo da vida o fruto do Espírito, composto de nove qualidades de caráter (veja Gl 5.22-23).
O que não fazer
Todavia, não se iluda. Enquanto o Espírito Santo trabalha para nos santificar e nos tornar semelhantes a Cristo (Rm 8.29), continuaremos sendo pecadores, pois, “se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1.8). Você ainda terá quedas porque o Salvador ainda não o libertou da presença do pecado. Afinal, você ainda vive num mundo pecaminoso, e uma natureza pecaminosa continua vivendo em você!
É por isso que Ele se encontra no Céu como seu intercessor (1Tm 2.5-6; 1Jo 2.1-2): para garantir, por Sua santa presença no Santuário Celestial, que você receba, pela fé, o perdão diário e desfrute da paz em Deus (Rm 5.1) que só Cristo pode dar (Jo 14.27; 16.33).
Portanto, esforce-se para não cair. A fé em Jesus e o amor por Ele são forças poderosas em nosso auxílio na luta contra o pecado, pois nos motivam a obedecê-Lo (Jo 14.15). Ao mesmo tempo, aceite o fato de que terá quedas. Não se iluda, pois você não é impecável. Só Jesus o foi.
Entretanto, ao cair não use isso como desculpa para continuar no erro. Busque a Deus imediatamente e volte-se para Ele, pois “é rico em perdoar” (Is 55.6-7). Arrependa-se, peça perdão (At 2.37-38) e continue crescendo (2Pe 3.18), confirmando sua “vocação e eleição” todos os dias (2Pe 1.10), pois é “desta maneira” que lhe será “amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.11).
Não desanime!
Para finalizar, quero lhe dar uma dica com base em minha vida de pecador salvo pela graça.
Esforce-se para não errar porque o erro traz consequências (Gl 6.7). Todavia, quando falhar, adote uma postura mental saudável diante do erro. Como? Não justifique o erro, mas, ao invés disso, aprenda com ele. Até mesmo de coisas ruins podemos tirar lições para a vida. Depende de nossa atitude mental. Seja uma pessoa otimista e entenderá perfeitamente o que quero lhe dizer.
Portanto, confie em Deus; permita que o Espírito lhe torne obediente e, ao errar, usufrua do perdão em Cristo aprendendo com suas falhas. Enquanto segue em sua jornada com Jesus, pare para pensar naquilo que já conquistou (no processo de santificação) pelo poder dEle e não se demore somente naquilo que não conseguiu vencer. E jamais se esqueça da promessa de Filipenses 1:6! “Tenho certeza de que aquele que começou a boa obra em vocês irá completá-la até o dia em que Cristo Jesus voltar” (Fp 1.6, Nova Versão Transformadora).
Para mim, o pensamento de Louis Burlamaqui pode expressar muito bem como devemos nos portar diante da vida enquanto crescemos pela graça de Deus, para que não nos frustremos nem nos vangloriemos: “Quando olho para trás, vejo quanto sou grande. Quando olho para a frente, vejo o quanto sou pequeno”.[4]
Referências
[1] Ron du Preez, “Interpretación y aplicación de la ética bíblica” em Entender Las Sagradas Escrituras (Buenos Aires, Argentina: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2010), p. 349-377.
[2] Preez, “Interpretación y aplicación de la ética bíblica”, p. 355.
[3] Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 22ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 530.
[4] Louis Burlamaqui, Flua: Pare de brigar com você e traga de volta seu alinhamento – Um guia completo para as competências emocionais, 3ª ed. (São Paulo: Aleph, 2011), p. 107.
8 respostas
por favor amado Prof.L.Q deixa mais esta semana o 1seminario de interpretaçao Biblica…
Concordo em parte com a pastagem, mas acrescento que não existe meio termo, como, por exemplo, não existe meio ladrão. A obra que O Senhor faz é completa. Jesus disse: “Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus”. Outra coisa; quando Cristo realmente transforma por Sua graça o coração do pecador, esse passa a ter prazer na lei de Deus.
Caro Isaac: está totalmente certo. Porém, lembre-se que a perfeição cristã é um processo que leva a vida toda, e que a perfeição de Mateus 5:58 não é “impecabilidade”, mas amar os inimigos não pagando o mal com o mal (leia a partir do verso 43). Graça e paz!
Não vos assenteis na poltrona de Satanás, dizendo que não adianta, que não podeis deixar de pecar, que não há em vós poder para vencer. Não há poder em vós, separados de Cristo, mas tendes o privilégio de ter Cristo permanentemente em vosso coração pela fé, e Ele pode vencer o pecado em vós, quando com Ele cooperardes. … Podeis ser cartas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. Não deveis ser cartas mortas, mas vivas, testificando perante o mundo que Jesus é capaz de salvar. — The Youth’s Instructor, 29 de Junho de 1893. AV 71.5
Publiquei no blog um artigo escrito por Woodrow W. Whidden traduzido do do verbete “Perfeccion” da obra The Ellen G. White Encyclopedia, a maior obra de referência sobre Ellen G. White já produzida. A Casa Publicadora Brasileira está trabalhando em sua tradução para que todo público de fala portuguesa tenha acesso a tão rico material. Esta é a primeira postagem em português sobre este assunto!
Nesse post você terá acesso a um resumo muito profundo sobre a posição de Ellen G. White acerca da perfeição cristã. Boa leitura e, EQUILÍBRIO!
https://leandroquadros.com.br/ellen-g-white-e-a-perfeicao-crista/
Ellen White diz:
“Em Seus ensinos, Cristo mostrou de quão vasto alcance são os princípios da lei pronunciada do Sinai. Fez Ele uma aplicação viva dessa lei cujos princípios permanecem para sempre a grande norma de justiça – norma pela qual todos serão julgados naquele grande dia em que se assentar o juízo e os livros forem abertos. Veio Ele para cumprir toda a justiça e, como cabeça da humanidade, mostrar ao homem que ele pode fazer a mesma obra, satisfazendo a todas as especificações dos reclamos de Deus. Pela medida da graça que Ele concede ao instrumento humano, ninguém precisa perder o Céu. A perfeição de caráter é alcançável por todo aquele que nela se empenha. Isto é a própria base do novo concerto evangélico. A lei de Jeová é a árvore; o evangelho são as perfumosas flores e os frutos que ela produz”. – Mensagens Escolhidas 1:211, 212. MG – MG 138.1
Publiquei no blog um artigo escrito por Woodrow W. Whidden traduzido do do verbete “Perfeccion” da obra The Ellen G. White Encyclopedia, a maior obra de referência sobre Ellen G. White já produzida. A Casa Publicadora Brasileira está trabalhando em sua tradução para que todo público de fala portuguesa tenha acesso a tão rico material. Esta é a primeira postagem em português sobre este assunto!
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Ellen White diz:
“Em Seus ensinos, Cristo mostrou de quão vasto alcance são os princípios da lei pronunciada do Sinai. Fez Ele uma aplicação viva dessa lei cujos princípios permanecem para sempre a grande norma de justiça – norma pela qual todos serão julgados naquele grande dia em que se assentar o juízo e os livros forem abertos. Veio Ele para cumprir toda a justiça e, como cabeça da humanidade, mostrar ao homem que ele pode fazer a mesma obra, satisfazendo a todas as especificações dos reclamos de Deus. Pela medida da graça que Ele concede ao instrumento humano, ninguém precisa perder o Céu. A perfeição de caráter é alcançável por todo aquele que nela se empenha. Isto é a própria base do novo concerto evangélico. A lei de Jeová é a árvore; o evangelho são as perfumosas flores e os frutos que ela produz”.
– Mensagens Escolhidas 1:211, 212. MG – MG 138.1