Leandro Quadros

Porco: 7 Razões Porque Comer Tal Carne é Pecado

O Pr. Antônio Júnior publicou um vídeo em suas redes sociais afirmando que não é pecado comer carne de porco. Para assistir o vídeo dele, clique aqui.

Mesmo sendo sincero, neste post você verá 7 razões pelas quais ele está equivocado.

#1 – Não há dicotomia entre AT e NT

O pastor citou Levítico 11:7 e Deuteronômio 14:8, que proíbem o consumo de carne de porco. Em seguida, afirmou que o Novo Testamento não ensina a respeito. Além disso, segundo ele Jesus, em Marcos 7:18-19, estaria de certa forma ensinando o contrário do que ensina o AT.

Em primeiro lugar, não devemos fazer essa separação entre AT e NT porque ela não existe (cf. Lc 24:44 e 2Pe 3:15-16). Afinal, a Bíblia é uma só, e toda ela é inspirada (2Pe 1:19-21).

Portanto, a Bíblia dos autores do NT era o AT!

Certamente não há no Novo Testamento uma repetição ao mandamento de Levítico 11 e Deuteronômio 14 com a mesma frequência que no AT. Porém, isso se dava pelo fato de o não consumo de carne de porco, a observância do sábado e a devolução do dízimos serem assuntos muito bem definidos e compreendidos por todos.

Em contrapartida, o Novo Testamento ensina sim algo acerca do não comer carnes imundas. Em Atos 10:14, cerca de 41 anos após a cruz, ao receber a visão de um lençol cheio de animais impuros, o apóstolo Pedro disse, quando lhe foi ordenado comer tais animais (até cobras e lagartos estavam presentes):

“Mas Pedro respondeu: “De modo nenhum, Senhor! Jamais comi algo impuro ou imundo!” (At 10:14, NVI).

 

Se 41 anos após a cruz Pedro continuava seguindo essa regra alimentar e não utilizava alimentos imundos; se no restante do capítulo aprendemos que a questão não era a alimentação em si, mas o considerar os gentios imundos e indignos de receber o evangelho (leia Atos 10 e 11), cai por terra a afirmação de que no Novo Testamento não há um ensino a respeito. Afinal, há o exemplo de Pedro. E um exemplo vale mais do que mil palavras.

O texto de Marcos 7:18-19

Ademais, o pastor deveria ter contextualizado Marcos 7:18-19, texto usado por ele para contradizer Levítico 11:7 e Deuteronômio 14:8. Inegavelmente, a leitura isolada desses versos torna impossível uma correta interpretação.

Por questão de tempo e porque já o fiz noutros vídeos, não analisarei o contexto interno de Marcos 7. Ao invés disso, transcreverei o texto juntamente com seu texto paralelo Mateus 15:20 – para compreendermos as palavras do Senhor. Compare os dois textos a seguir e atente para os grifos que acrescentarei:

“Então, lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos.” (Mc 7:18-19, ARA).

“São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina.” (Mt 15:20, ARA).

 

Perceba que Cristo não “considerou puros todos os alimentos” no sentido de liberá-los para consumo.

Em contrapartida, Jesus “considerou puros todos os alimentos (que os judeus comiam) mesmo que alguém os comesse sem lavar as mãos, no ritual de purificação” realizado pelos fariseus. Veja o contexto que leva a tal conclusão em Marcos 7:1-5 e Mateus 15:1-3.

#2 – As normas de Levítico 11 não eram de ordem cerimonial

Ao contrário do que o Pr. Antônio Júnior afirmou, a proibição de comer carne de porco não tem relação com as leis cerimoniais, mas com as Leis de saúde.

As leis cerimoniais diziam respeito ao culto que prefigurava a Cristo, de modo que a questão das carnes imundas está totalmente fora de questão. Não faz parte da mesma classificação.

Deve-se destacar que nossa natureza é “holística” (do grego holos, “integral”). Isso significa que Deus se preocupa com o que comemos. Afinal a relação entre corpo e mente é muito íntima:

“A comida afeta a mente? Comer e beber afetam o Espírito? Seguramente. O olhar ácido para a vida vem de um estômago dispéptico. Comer de modo correto não produzirá necessariamente disposição amável, mas comer de modo errado torna difícil seguir o padrão estabelecido por Deus”. (Francis D. Nichol e Vanderlei Dorneles, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 1 [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011], p. 818).

#3 – A linguagem de Levítico 11:41-44 é muito forte

Veja que esse texto é mais sério do que se imagina, e que o mesmo não admite interpretarmos a proibição divina apenas de um ponto de vista físico e cerimonial. Novamente, atente para os grifos:

“Também todo enxame de criaturas que povoam a terra será abominação; não se comerá. Tudo o que anda sobre o ventre, e tudo o que anda sobre quatro pés ou que tem muitos pés, entre todo enxame de criaturas que povoam a terra, não comereis, porquanto são abominação. Não vos façais abomináveis por nenhum enxame de criaturas, nem por elas vos contaminareis, para não serdes imundos. Eu sou o Senhor, vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo; e não vos contaminareis por nenhum enxame de criaturas que se arrastam sobre a terra.” (Lv 11:41-44, ARA)

 

Se deu atenção aos grifos, percebeu que a linguagem de Levítico 11 é muito forte para vermos o texto como uma lei cerimonial, que afetava apenas o físico. Deus usa termos como “abominação”, “abomináveis”, “contaminareis” e “vos consagrareis e sereis santos”. Definitivamente, esses termos associados à palavra “contaminação”, mostram que há algo muito maior em questão do que apenas uma lei ritualística, que contaminava cerimonialmente o corpo. Existem questões de saúde e de espiritualidade envolvidas.

#4 – Na cruz Jesus purificou o pecador, não o porco

Precisamos de uma vez por todas entendermos que o Salvador não morreu para purificar porcos. Até porque a estrutura orgânica e os alimentos preferidos por eles continuam os mesmos. Ele morreu para salvar e purificar seres humanos pecadores. Veja os textos a seguir e esteja certo(a) de que não encontrará um verso sequer nas Escrituras dizendo que a morte de Jesus na cruz fez com que os porcos “deixassem de ser porcos”, diríamos assim:

“Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1:3)

“No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef 1:7)

 

Sobretudo após o pecado, os porcos (camarões, lagostas, etc.), se tornaram lixeiros da natureza. Definitivamente, a cruz não alterou isso.

Em contrapartida, concordo com o Pr. Antônio de que a salvação é pela fé e não pelas obras (Ef 2:8-9; Tt 3:7). A isso nada tenho a acrescentar. Mas, creio que o pastor há de concordar comigo de que a graça nos torna pessoas melhores, “novas criaturas” em Cristo (2Co 5:17), porque ela é operante (Ef 2:10; Tt 3:8; Tg 2:24-26). Opera uma transformação (Hb 8:10) que se seguirá por toda a vida. Isso se chama santificação.

#5 – Comer carne de porco irrita a Deus

Se o uso da carne de porco envolvesse apenas uma questão ritual, o autor inspirado não poderia ter categorizado o comer carne de porco como algo que irrita o Criador:

“Povo que de contínuo me irrita abertamente, sacrificando em jardins e queimando incenso sobre altares de tijolos; que mora entre as sepulturas e passa as noites em lugares misteriosos; come carne de porco e tem no seu prato ensopado de carne abominável” (Is 65:3,4 – ARA).

 

Indiscutivelmente o texto aponta 3 práticas que irritavam a Deus entre o povo de Israel: idolatria, espiritismo e comer carne de porco e outras carnes “abomináveis”.

Deus é imutável em seus conceitos (Ml 3:6; Hb 13:8; Tg 1:17) e mutável na forma de tratar o pecador (Jr 18:7-10; Jn 3 e 4). Desse modo, sendo Ele imutável em seus conceitos e princípios, da mesma forma que o consumo de carne de porco nos dias de Israel O irritava, também O irrita hoje.

#6 – Quem persistir em comer carne de porco será destruído

Esse texto também é forte. Além disso, a forma como foi contextualizado – no contexto do juízo final – prova que a persistência na prática de comer carnes imundas trará sim castigo, ao contrário do que o Pr. Júnior afirmou em seu vídeo:

“Os que se santificam e se purificam para entrarem nos jardins após a deusa que está no meio, que comem carne de porco, coisas abomináveis e rato serão consumidos, diz o Senhor” (Is 66:17 – ARA).

 

Quem disse isso foi o Senhor. Não o Leandro, os adventistas do sétimo dia, judeus ou muçulmanos.

Isso contraria o que o pastor disse, de que “ninguém irá se perder” por comer carne de porco.

Claro que Deus não julga nenhuma pessoa por atos isolados (Mt 16:27; Ap 22:12). Todavia, precisamos atentar para esse texto e para um último fato:

#7 – O corpo é o Santuário do Espírito Santo

Talvez esta seja a maior razão para não consumirmos carne de porco e outras carnes consideradas imundas na Bíblia. Segundo o texto sagrado, nosso corpo é o “templo”, “santuário” ou “morada” da 3a Pessoa da Trindade:

“Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1Co 6:19,20).

 

Sendo nosso corpo morada do Espírito Santo, não devemos “sujá-lo” com alimentos imundos. Do mesmo modo que você não jogaria lixo dentro de um templo-igreja, não deve jogar lixo no templo-corpo, onde se encontra o Espírito divino!

Além disso, o texto diz que o corpo não nos pertence, mas sim a Deus. Tanto pela criação quanto pela redenção.  Devemos “glorificar a Deus no nosso corpo”, já que Jesus comprou-nos com o preço do Seu sangue. Posteriormente evitaremos tudo aquilo que seja contrário aos princípios alimentares divinos. Afinal, Aquele que criou todas as coisas sabe o que é melhor para nosso corpo.

Textos Finais

Quero finalizar este breve artigo com duas citações que ajudarão a refletir mais sobre o tema. Espero que sirvam de auxílio tanto ao Pastor Antônio Júnior quanto a outros irmãos que pensam como ele.

“Os princípios dietéticos de Levítico 11, em conjunto com outros regulamentos sanitários, foram dados pelo sábio Criador, a fim de promover a saúde e a longevidade (ver Êx 15:26; 23:25; Dt 7:15; Sl 105:37; Patriarcas e Profetas, p. 378). Como se baseiam na natureza e nas exigências do corpo humano, esses princípios não poderiam de modo algum ser afetados pela cruz ou pelo desaparecimento de Israel como nação escolhida. Os princípios que contribuíram para promover saúde há 3,5 mil anos produzirão os mesmos resultados hoje.” – Ibid., p. 819.

 

Igualmente, o comentário afirma:

“O cristão sincero considera seu corpo o templo do Espírito Santo (1Co 6:19, 20). Valorizar esse fato o levará, entre outras coisas, a comer e a beber para a glória de Deus, ou seja, regulamentar sua dieta de acordo com a revelada vontade de Deus (1Co 9:27; 10:31). Assim, para ser coerente, o crente deve aceitar e obedecer aos princípios ordenados em Levítico 11” – Ibid.

 

Graça e paz a todos!

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10 respostas

  1. Sou vegetariano e costumo ir a restaurantes que por vezes são adventistas. Gosto muito e os ambientes são sempre “pacíficos” por assim dizer, o que também me agrada demais. Não sou cristão e nem religioso, sou agnóstico e não como animais pois vejo que há um grande sofrimento causado na criação deles e um imenso dano ambiental, portanto não faço isso por fé mas pela via racional mesmo e por bom senso, mas respeito quem o faz por motivos religiosos como os adventistas, hinduistas e até alguns espíritas por exemplo, além disso, querendo ou não, acabam por ajudar na causa animal e ambiental. Abs fique na paz!

  2. O Concílio de Jerusalém em atos 15 resolveu esse dilema, entendo que o assunto em si era a circuncisão, que os de origem hebraica queriam impor aos gentios. Esse concílio deliberou que aos gentios não fosse imposto nenhum peso “além destas coisas necessárias: que vos abstenhais das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas, e das uniões ilegitimas” (Atos 15,28-29).

    Esse concílio não fala especificamente da carne de porco, mas o tema está implícito na discussão. Podemos, sem dúvida, tomar a conclusão dos apóstolos reunidos em Jerusalém como alicerce em base ao qual julgar a ortodoxia na observância da Lei do Antigo Testamento.

    Como o senhor mesmo diz, isso é uma lei alimentar, sendo assim tem sua origem na necessidade que a religião tem de passar valores que ajudassem o bem estar dos seus seguidores.

    A carne de porco tinha difícil conservação num hambiente desertico, por isso a necessidade de abolir, hoje temos meios de conservação, e melhores pode de preparo.
    Além do mas, não sou judeu, sou gentil, então fico com o porco.

    1. Pois pensei o mesmo. Como será que Deus vê isso de proibir o consumo de porco e hj tem coração de porco batendo em peito humano? E a insulina que também se retira do porco? Curiosidade só. Somos infimos para entender.

  3. Eu não como carne de porco porque Deus mandou não comer, eu guardo o sábado porque Deus mandou guardar, não adianta nós ficarmos dando justificativas, Ele manda e eu como um filho obediente apenas obedeço, que Deus te abençoe pastor Leandro.

  4. Bom dia Professor Leandro Quadros, primeiramente quero dizer que sou seu fã!!
    Não sou adventista e por enquanto não pertenço a nenhuma denominação, mas estou sempre estudando a bíblia através dos seus videos, e do professor rodrigo silva, entre outros que não pertence ao adventismo.
    Seria legal algum dia você convidar o Antonio Junior para uma live para cada um expressar a sua opinião segundo a bíblia sobre a carne do porco, não como um debate mas sim como duas pessoas sinceras e amigáveis conversando, assim seria bem interessante verificar o ponto de vista de cada um a luz da bíblia.
    Abraço!! Ainda espero te conhecer e conhecer o estúdio do na mira da verdade.

  5. Em Atos 10:14, cerca de 41 anos após a cruz, ao receber a visão de um lençol cheio de animais impuros, o apóstolo Pedro disse, quando lhe foi ordenado comer tais animais (até cobras e lagartos estavam presentes):

    “Mas Pedro respondeu: “De modo nenhum, Senhor! Jamais comi algo impuro ou imundo!” (At 10:14, NVI).

    Esqueceu de colocar a resposta, o que Deus respondeu em Atos 10:15???

    O Levítico foi escrito para quem? Judeus? Gentios? Sacerdotes?? Leigos? A Lei mosaica pertencia a que povo?

    Cumpre tudo o que está no Levítico? Ou só…..algumas coisas?

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Sobre o Autor
Prof. Leandro Quadros

Com mais de 20 anos de ensino sobre a Bíblia em igrejas, congressos e programas de TV e rádio, desenvolvi diversos conteúdos – e-books, audiolivros e cursos; para compartilhar os meus aprendizados e tornar acessíveis temas teológicos complexos.

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