Leandro Quadros

O “progressismo” e suas heresias

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Um regressista (“progressista” é um termo impróprio, em minha opinião) disse em seu Twitter que a palavra “heresia” não existe na tradição adventista, e que aquele que a usa, “não sabe seu significado” ou “não conhece a nossa história”.
Vamos deixar que a Bíblia e a história adventista refutem essa “pérola”:

#1. A palavra heresia aparece na Bíblia

Seria muito estranho as Escrituras usarem o termo, e nossos pioneiros (fundadores do adventismo) o ignorarem. Não acha?
O termo “heresia” vem do grego airesis , e o encontramos em 2 Pedro 2:1, por exemplo:
“No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias (airesis) destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição”.

Significado de airesis (ou aireseis, dependendo do texto grego)

W. C. Taylor, em seu Dicionário do Novo Testamento Grego, 6a ed. (Rio de Janeiro: JUERP, 1980), p. 12, explica:
“Sentença, opinião escolhida contrária à doutrina prevalecente, de cujo ponto de vista é heresia”

#2. O termo “heresia” foi sim usado por nossos pioneiros

Ellen White, por exemplo, o usa abundantemente. Em seus escritos, ela o utiliza cerca de 283 vezes, segundo pesquisa feita no aplicativo “EGW Writings 2”.
Isso prova que o que foi dito no Twitter por esse irmão regressista – de que o termo “não faz parte da nossa história” – evidencia sua total ignorância em relação à história da própria denominação, a qual acredita pertencer. Veja algumas das citações de Ellen White:
“[…] Tal obra tem sido desenvolvida no passado por pessoas que professam ter maravilhoso esclarecimento, quando se acham afundadas no pecado. Heresia, desonestidade, e mentira reuniam-se todas elas” – Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 78.
“Alguns haviam ido ao ponto de negar a doutrina da ressurreição. Paulo enfrentou esta heresia com um claro testemunho referente à inegável evidência da ressurreição de Cristo.” – Atos dos Apóstolos, p. 167.
“Com blasfema presunção pretendiam abertamente o poder de criarem Deus, o Criador de todas as coisas. Aos cristãos exigia-se, sob pena de morte, confessar sua fé nesta heresia horrível, que insulta ao Céu. Multidões que a isto se recusaram foram entregues às chamas.” O Grande Conflito, p. 59.
OBS: White não apenas usa o termo “heresia”, como a considera algo *horrível”, nesse trecho.

 

Agora, veja o “Twitt pérola”, e tire sua própria conclusão com base nas informações anteriores:

Conclusão

Definitivamente, ele não sabe o que diz, e dificilmente terá humildade para reconhecer isso, já que se encontra mergulhado num mar de heresias.

Deus tenha misericórdia dele, e o ajude a não se afogar mais ainda 🙏🏼

E CONTINUA…

Os “progressistas” e a falta de leitura

Em mais um Twitter, foi-me feito um desafio: “Me diga a página em que essa palavra (heresia) aparece nas 28 crenças fundamentais. Me mostre também as palavras ‘dogma’ e ‘ortodoxia’”.

O detalhe é que em posts anteriores, eu demonstrei que o termo “heresia” foi usado tanto na Bíblia quanto nos Escritos de Ellen G. White (283 vezes).

Isso leva a pensar: será que ao ignorar o uso do termo na Bíblia e em Ellen G. White, nosso irmão estaria insinuando que tais fontes não possuem a devida autoridade profética para ele?

Agora vou dizer (escrever) onde esses termos aparecem no Nisto Cremos.

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Mas antes, para informar internautas que, talvez, não estejam a par da discussão, as 28 crenças fundamentais adventistas aparecem na obra (usarei a 8ª edição de 2010) Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia [Associação Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, organização] (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010).

Vamos lá.

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#1 – Páginas em que se encontram a palavra “heresia”

Pág. 283:

“[…] O dom profético reprova, adverte, orienta e encoraja tanto indivíduos quanto a igreja, protegendo-os das heresias e unificando-os nas verdades bíblicas.”

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Pág. 364, nota de rodapé no 27:

“[…] Paulo advertiu contra futuras heresias que haveriam de proibir aos crentes a participação nas duas coisas que Deus deu a toda a humanidade na criação – matrimônio e alimentos.”

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Pág. 435:

“Por intermédio de ‘técnicas’ como as sessões espíritas eles personificam os amados falecidos, trazendo suposto conforto e segurança aos vivos. Por vezes, predizem eventos futuros, os quais, caso se tornem realidade, resultam em credibilidade para o embuste. A partir daí, as perigosas heresias por eles transmitidas recebem a marca da autenticidade,
mesmo que contradigam a Bíblia e a lei de Deus.”

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#2 – Página em que se encontram as palavras “dogma”, “ortodoxos” ou “ortodoxia”

Pág. 214:

“A reverência viva diante das Escrituras foi superada em favor de uma teoria morta quanto à inspiração. Ortodoxia genial cedeu lugar à férrea uniformidade e o pensamento vivo foi substituído pela dialética da controvérsia”.

Obs: No contexto dessa citação de Frederic W. Farrar, ele comenta sobre a era pós-Reforma. Ele faz um uso tanto positivo quanto negativo do termo “dogma”. O Nisto Cremos não deixou de usar o termo porque: (1) Não é proibido usá-lo; (2) Ele também possui um significado positivo; (3) Ele faz parte sim da história adventista.

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Pág. 214:

“Controvérsias irromperam. ‘Jamais houve uma época em que os homens
estivessem tão ocupados em descobrir os erros uns dos outros, ou em que se
chamassem uns aos outros com tantos nomes ignominiosos.’ Assim, as
boas-novas se tornaram uma guerra de palavras. ‘As Escrituras não mais
falavam ao coração e sim ao intelecto crítico.’ ‘Os dogmas eram
ortodoxos, mas a espiritualidade se extinguiu. A teologia triunfou, mas o
amor feneceu.’”

Obs: Inclusive na página 252, nota de rodapé no 25, o Nisto Cremos cita a obra Church Dogmatics, de Karl Barth.

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Para complementar, o Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), obra que representa oficialmente a teologia adventista, também usa tais termos. Veja:

#1 – Página em que se encontra a palavra “heresia” no Tratado de Teologia

Pág. 215:

“Procurando preservar a singularidade de Deus Pai, os monarquianos reagiram energicamente contra os pontos de vista trinitarianos cada vez mais promovidos entre cristãos. Para eles, o Verbo era fundamentalmente inferior a Deus. Essa era a essência da heresia ariana, que negava a integridade das duas naturezas de Cristo”.

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#2 – Página onde se encontra a palavra “Dogma” no Tratado de Teologia:

Pág. 531:

“O contexto de Colossenses 2:14 mostra regulamentos que têm a ver com celebrações e alimentos cerimoniais (v. 16; ver Sábado). Em ambos os casos, dogma tem que ver com a lei cerimonial judaica”

Obs: Considerando que o “escrito de dívida” era “contra nós” (Cl 2:14), a lei cerimonial como dogma não é vista como algo negativo. Afinal, esta lei nunca foi contra a humanidade, pois, com seu sistema de sacrifícios, apontava para Cristo (Jo 1:29).

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#2 – Página onde se encontra a palavra “Ortodoxia” no Tratado de Teologia:

Pág. 297:

“A nova ortodoxia procurou defender a gravidade da alienação humana de Deus, ao mesmo tempo em que passava por alto os aspectos da queda e do pecado mentidos pela teologia tradicional”.

Obs: Aqui o Tratado questiona a “Nova Ortodoxia” sobre o pecado, e não a “Antiga Ortodoxia”. 

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Conclusão

Mesmo tendo sido criado na Igreja Adventista do Sétimo Dia, o autor do Twitter desafiador parece não ter lido o Nisto Cremos, e muito menos o Tratado de Teologia.

Espero que com tais informações ele reconheça, humildemente, que mais uma vez errou em suas afirmações, pois nada há de vergonhoso nisso. Pelo contrário: é sinal de cristianismo e hombridade reconhecer erros, pois eles fazem parte de nosso crescimento neste mundo de pecado.

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2 respostas

  1. Acho que estes “regressistas” estão precisando de fazer um curso do EJA – (tem via EAD também) … ou no programa de “Alfabetização Solidária” do Governo Federal… só isso explica tamanha ignorância.

  2. Interessante que essas pessoas com suas pérolas dizem que a bíblia não se interpreta no hebraico e nem no contexto da época, mas o correto é no nosso idioma e nossa época. Porém não percebem a cilada que usam contra si mesmos, pois muitas falsas doutrinas deles é baseado em argumentos da época e do contexto hebraico, então quando você usa o argumento de interpretação deles, passam a apelar para chingamentos e mais heresias, pois vêem que caíram na própria cilada

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Sobre o Autor
Prof. Leandro Quadros

Com mais de 20 anos de ensino sobre a Bíblia em igrejas, congressos e programas de TV e rádio, desenvolvi diversos conteúdos – e-books, audiolivros e cursos; para compartilhar os meus aprendizados e tornar acessíveis temas teológicos complexos.

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